Projetos de Pesquisa – Literatura, Cultura e Sociedade

CARLOS FERRER PLAZA
A hibridação genérica no romance contemporâneo
O projeto visa analisar e interpretar o fenômeno da hibridação genérica no romance contemporâneo a partir da análise do processo de transformação do paradigma narrativo e a reorganização do marco de referência romanesco no sistema literário espanhol entre os anos finais do século XX e as primeiras décadas do século XXI. O intuito é: indagar nas confluências formais das diversas poéticas individuais, analisar os mecanismos e dinâmicas deste fenômeno literário no contexto social e cultural contemporâneo e entender a relevância da hibridação genérica como fenômeno de caráter global.

GERSON LUIZ ROANI
A religiosidade em Eça de Queirós: devoção e dualidade nas personagens no romance a relíquia (1887)
Contribuir para os estudos teórico-críticos sobre o romance português do século XIX, através de um estudo interdisciplinar sobre a relação entre a Literatura e a religiosidade na obra A Relíquia (1887), de Eça de Queirós. – Estudar o romance de Eça de Queirós como significativo para a análise das relações entre a Literatura e a Religião no âmbito da Ficção Portuguesa. – Desvendar a duplicidade do comportamento religioso das personagens do romance, analisando minuciosamente a construção do protagonista, Teodorico Raposo.- Definir as demais personagens do romance por meio da Teoria da Literatura e a Teoria da Narrativa.- Perseguir todos os atos de Teodorico e principalmente, seu comportamento religioso.- Investigar como a religião e todas as suas tendências incidem nas escolhas das personagens romanescas.
Representações do direito e da justiça na literatura
O presente projeto almeja estudar a forma como ocorrem representações literárias de figuras, temas, topoi, situações, profissionais e Institutos oriundos do âmbito do Direito. Explora-se a aproximação entre Direito e Literatura como campos de conhecimento que lançam mão da linguagem como instrumento de representação, interpretação e reflexão sobre a condição humana. Tal processo destaca a narratividade como uma produtividade discursiva comum que apresenta aproximações e afastamentos entre os dois saberes. Além disso, como aponta Rocha Pinheiro (2018, p.2), a narratividade, tanto no Direito, como na Literatura, sublinha a necessidade de reflexão crítica e o resgate das vozes de novos sujeitos sociais, os quais tiveram suas narrativas silenciadas, anuladas e reprimidas por diversos tipos de opressão ao longo da História. Tal resgate confere sentido ao estudo da representação literária por temas do Direito, pois é desse processo de análise teórico-crítica que emerge a noção de Justiça. Isto é, a Literatura transfigura, com criatividade e feição crítica, os direitos intrínsecos à condição humana e a necessidade de busca de dignidade e de justiça como princípios basilares sobre os quais se constrói uma sociedade de paz e de igualdade.

JOELMA SANTANA SIQUEIRA
A literatura brasileira na segunda metade do século XX
A partir da investigação sobre a origem da expressão “geração de 45” no contexto da literatura brasileira do pós-guerra, busca-se conhecer a obra de escritores brasileiros inseridos nesse contexto, acompanhar a recepção de suas obras, os desdobramentos de suas poéticas e o legado teórico e crítico deixado por eles, visando a produção de material didático, artigos e capítulos de livros que possam contribuir para o ensino e a pesquisa nos estudos literários.
As poetas da geração de 45
Muito embora a geração de 45, esteja frequentemente presente em textos historiográficos, críticos e didáticos que tratam da literatura brasileira da segunda metade do século XX, tem sido, em livros didáticos, especialmente, considerada como constituindo a terceira geração modernista e representada pelos renomados escritores João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector e João Guimarães Rosa; em trabalhos acadêmicos, no entanto, tem sido observada como um grupo constituído de jovens rapazes poetas, empenhados em definir-se como dessa geração. Poucos se lembram de que neste grupo também havia mulheres poetas, participando de publicações, congressos, revistas e sendo recepcionadas, muitas vezes, pelos poetas que lhes eram contemporâneos. O objetivo do presente projeto é investigar a presença dessas escritoras na geração, analisando a publicação de suas obras em livro, na imprensa, revistas e, também, a recepção por seus contemporâneos, interessado no debate sobre as individuações descontínuas do processo cultural, que, como propôs Alfredo Boss (2002), podem exprimir tanto espelhamentos quanto variações, problematizações e, no limite, negações.
A literatura em presença
O projeto abarca pesquisas sobre a presença da literatura em outros suportes além do livro e em outros espaços além da sala de aula, visando discutir possíveis contribuições para a historiografia e a crítica literárias, a partir de análises das relações entre os suportes, as performances, as formas artísticas e a recepção da obra. Nesse sentido, interessa-nos a materialidade da literatura e os estudos das poéticas da oralidade, os estudos sobre literatura e imprensa, literatura e canção popular, literatura.

JÚNIOR VILARINO PEREIRA
Ressonâncias baudelairianas em poéticas da modernidade e do contemporâneo
O objetivo deste projeto é tratar em que medida o pensamento de Charles Baudelaire pode lançar luzes sobre pesquisas em literatura e arte contemporâneas. Ele está vinculado ao projeto de pesquisa Literatura, Cultura e Sociedade, do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Viçosa. No âmbito desta pesquisa, temos publicado artigos relacionados com a obra de Charles Baudelaire e suas interfaces com as artes. Além disso, temos orientado projetos de Iniciação Científica inseridos no escopo do projeto. No âmbito do ensino no Departamento de Letras da UFV, pretende-se ministrar disciplinas no Mestrado em Estudos Literários com o uso do aparato bibliográfico com que temos trabalhado, sempre promovendo a interface entre textos de Baudelaire, da literatura francesa, da crítica e da teoria da modernidade do século XIX com objetos e corpus de pesquisa tanto diacrônicos quanto sincrônicos. Fundamentam teoricamente este projeto: Walter Benjamin, sobre a criticidade urbanística do flâneur; Willi Bolle, acerca da noção de cosmopolitismo crítico; Antoine Compagnon, sobre a condição paradoxal da modernidade; Georges Didi-Huberman, com suas interfaces entre texto e imagem.

LUCIANA BRANDÃO LEAL
Corpo e territorialidade em registros da cultura imaterial brasileira: fotografias de Maureen Bisilliat e Marcel Gautherot
Esta pesquisa analisará obras de Maureen Bisilliat e de Marcel Gautherot e sua relação com o espaço identitário e imaterial da cultura brasileira. Propõe-se investigar as representações do ?corpo? e da ?territorialidade?, além dos regionalismos e suas veredas. O estudo observará, também, como são representadas temáticas concernentes às manifestações culturais de diversas regiões brasileiras, como o folclore, a arte popular, o sincretismo religioso e o trabalho, sobretudo o trabalho de mulheres. Salienta-se a importância deste projeto na medida em que evidenciará como as fotografias documentam e representam as expressões populares, as diásporas africanas e indígenas constituintes da nossa híbrida identidade. As fotografias, como documentos e obras de arte, representam narrativas visuais da cultura de um povo, articulandose a outros saberes. Os acervos selecionados resguardam traçados da nossa cultura imaterial e, como registro antropológico, documentam e constituem as identidades ?rizomáticas? e ?em trânsito? do povo brasileiro. A pesquisa ampliará o trabalho crítico sobre a Arte da fotografia no Brasil. Promoverá, também, a divulgação e o conhecimento sobre os artistas estudados e suas obras, além dos acervos fotográficos disponíveis no Instituto Moreira Salles..
Escritas literárias africanas de língua portuguesa e textualidades orais: transcriações poéticas
O Projeto é interinstitucional, envolvendo IES mineiras, a PUC Minas, a UFOP, a UFMG, a UFVJM e a UFV. Seu objetivo é analisar produções literárias de autores africanos evidenciando como nelas se realiza o diálogo entre a escrita e as textualidades orais de seus países: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Por formas da textualidade oral queremos significar expressões de cultura tradicional enquadradas como literatura oral ou oratura, que se distribuem entre os países africanos de língua portuguesa, como missossos (contos), makas (casos), jinongonongo ou nongonongo (adivinhas), jissabu (provérbios), malunda ou missendu (narrativas históricas ou crônicas da tribo), quilanduquilos (passatempo, entretenimento), fábulas, passadas, cantigas de mandjuandadi (cantigas de mulheres), danças rituais (chigubo, niketche e mutsitso), dentre outros. Serão lidas obras de Ana Paula Tavares, José Craveirinha, Tony Tcheka, Orlanda Amarílis, Conceição Lima e outros. A hipótese que orienta a pesquisa é a de que o exercício criativo dos escritores pode ser pensado a partir das ideias de transcriação (Haroldo de Campos, 2004), estética da relação (Édouard Glissant, 2005), e partilha do sensível (Jacques Ranciére, 2005). Abordar as escritas africanas na perspectiva das ideias desses pensadores pode nos ajudar a ver como os autores recuperam criticamente formas e signos das textualidades orais das culturas tradicionais, relendo-os a partir de uma dimensão histórica na qual eles são problematizados. Ao fazê-lo, demonstram uma percepção da escrita como instrumento que lhes possibilita mergulhar nos usos, nos costumes e nas concepções de mundo grafadas pelas letras das culturas tradicionais de seus países e transcriá-las em palavras poéticas. Dada a natureza do estudo comparativo que se pretende, sabemos que a eficácia da realização deste projeto nos impõe buscar um conhecimento maior das textualidades orais dos países africanos de língua portuguesa, ainda que por meio de pesquisa bibliográfica, a fim de explorar melhor a dimensão histórica a partir da qual elas são relidas. Essa metodologia inclui o contato com instituições como a Universidade Agostinho Neto, em Angola; o Instituto de Estudos e Pesquisas e a Universidade Amílcar Cabral, da guiné Bissau; a Universidade Eduardo Mondlane e o Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa, de Moçambique; a Universidade Lusíada de São Tomé Príncipe, dentre outras, para a realização de parcerias que viabilizem a realização da pesquisa. Intenta-se, ainda, com a realização deste projeto, produzir material bibliográfico a ser disponibilizado para estudantes e professores dos vários níveis de ensino, do Brasil, dos países africanos de língua portuguesa e de Portugal, como também a pesquisadores nacionais e internacionais das diversas áreas de conhecimento que se interessam pelo tema.
Mulheres de África: estudos sobre a poesia feminina dos países africanos de língua portuguesa
Este projeto propõe estudos sobre a produção literária feminina dos países africanos de língua portuguesa, com análises de poesias escritas por mulheres africanas no século XX. Considera-se feições poéticas das escritoras: Alda Lara e Ana Paula Tavares, de Angola; Dina Salústio e Vera Duarte, de Cabo Verde; Noémia de Sousa e Hirondina Joshua, de Moçambique; Odete Semedo e Saliatu da Costa, da Guiné-Bissau; Alda do Espírito Santo e Conceição Lima, de São Tomé e Príncipe. Este empenho crítico-bibliográfico possibilitará a produção de textos teóricos sobre poesias de mulheres dos espaços africanos, que produziram, sobretudo, no século XX, além da maior divulgação das obras escritas por mulheres nas colônias/países. Os resultados serão publicados em artigos e livros que contribuirão para a formação mais completa de alunos dos cursos de Letras e trarão maior aporte teórico a novos pesquisadores sobre a produção poética feminina em África. Esta pesquisa também contribuirá para a internacionalização do conhecimento sobre a literatura produzida nos ?CINCO”. Palavras-chave: Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, CINCO, Poesia feminina, Vozes de Mulheres.
A produção poética dos países africanos de língua portuguesa nos séculos XX
Este projeto de pesquisas considera a produção literária dos países africanos de Língua Portuguesa – Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe – promovendo reflexões, análises e percursos críticos sobre poesias produzidas nesses espaços no decorrer do século XX. No Brasil, a Lei Federal 10639/03 determina o estudo sobre a história e sobre as culturas africanas para todos os níveis de ensino; entretanto, a abordagem das literaturas africanas de língua portuguesa nos ambientes acadêmicos ainda é muito falha, devido à escassez de formação de pesquisadores/professores. Isso acontece, sobretudo, pela limitada difusão de pesquisas nessa área e pelo difícil acesso a bibliografias sobre o tema. Essas questões se refletem na formação do público leitor de poemas africanos, o que depende de um grande empenho do professor, que conta com poucos recursos bibliográficos, já que muitas obras não são editadas/publicadas em nosso país. Estudar a poesia e as artes de países africanos colonizados por Portugal, no período pré e pós-independência, permite não apenas conhecer o projeto literário de cada um desses países, como também a história da colonização e das lutas pela independência nesses espaços. Como viés investigativo, pretende-se realçar as marcas de identidade presentes em cada um dos projetos literários dos países africanos de língua portuguesa, discutindo como tais aspectos corroboram para a formação de um sistema literário próprio. A presente proposta é relevante e necessária, pois viabilizará a produção crítica e bibliográfica sobre poesias/poetas dos espaços africanos, além da maior divulgação das obras escritas nas colônias/países. Os resultados serão publicados em artigos científicos e livros que contribuirão para a formação mais completa de alunos dos cursos de Letras. Para além desse impacto, as pesquisas trarão maior aporte teórico a novos pesquisadores que pretendem investigar os sistemas literários dos “CINCO” (MATA, 2013).

NATÁLIA FONTES DE OLIVEIRA
Mulheres e Ficção: Autoria feminina
O objetivo desse grupo de pesquisa é ampliar o conhecimento sobre literaturas de expressão inglesa e literaturas de língua portuguesa de autoria feminina na contemporaneidade. Busca-se desestabilizar uma classificação generalista, excludente e hierárquica de uma única literatura produzida por mulheres, ressaltando a pluralidade de ficções poéticas e expressão da alteridade.
Ecofeminismo em distopias contemporâneas de autoria feminina de língua inglesa: a complexa e plural relação entre humano, pós-humano e não humano, natureza e tecnologia
Historicamente, mulheres e natureza têm uma associação de longa data que persiste em diversas culturas, literaturas e artes. A mulher é vista como mais próxima da natureza do que o homem que, metaforicamente tem sido associado à cultura. Grande parte da literatura ocidental é antropomórfica, baseada na superioridade da cultura à natureza e do homem à mulher. O presente projeto refuta essa herança literária e filosófica de uma epistemologia androcêntrica visando desconstruir a associação simbólica e histórica entre as mulheres e a natureza para defender a interconexão da humanidade e o ecossistema. A análise dos preceitos do ecofeminismo nas distopias contemporâneas de língua inglesa supre a lacuna do conhecimento científico ao reescrever a complexa e plural relação entre o humano e não humano, natureza e tecnologia. Especificamente, será investigado figuras de linguagem sobre natureza e tecnologia, papéis sociais de gênero, formas de resistência, violências contra a mulher, poderes institucionalizados e concepções do humano, pós-humano e não humano. O arcabouço teórico-metodológico do projeto é a crítica literária feminista, estudos distópicos e a crítica ecofeminista. Inicialmente, o corpus consistirá das distopias: Who Fears Death (2010) de Naedi Okorafor, Gold Fame Citrus (2015) de Claire Vaye Watkins, Orxy and Crake (2003), The Year of the Flood (2009) e The Testaments (2019) de Margaret Atwood. Este projeto ampliará a concepção e o protagonismo feminista, além de propiciar reflexões sobre antropomorfismo tendo o compromisso literário e social de despertar diversos olhares que desencadeiam processos particulares subjacentes da luta por políticas públicas voltadas para a garantia de direitos de grupos minoritários.
Ynés Mexía Database of Medicinal Plants
O projeto tem como objetivo desenvolver um banco de dados digital dedicado à curadoria dos espécimes botânicos coletados pela botânica mexicana americana Inés Mexía na América Latina entre 1928-1938.

NATÁLIA GONÇALVES DE SOUZA SANTOS
Mesmo espelho, diferentes (re/in)flexões: a recepção dos artigos da Revue des deux mondes pela crítica literária brasileira e estadunidense no Romantismo
O cosmopolitismo do século XIX, ao contrário do seu antepassado iluminista, baseia-se numa caraterística comum a todas as nações, as diferenças, e almeja sua internacionalização. Tais diferenças não são vistas como defeitos, mas como possibilidades de enriquecimento mútuo e de intercâmbios. Esse princípio foi divulgado por revistas europeias, com destaque para a Revue des deux mondes (RDM), que ostentava uma postura pretensamente liberal. No entanto, alguns dos seus artigos impunham estereótipos, não apenas, mas em especial ao Novo Mundo, em lugar de observar e comparar variedades. Considerando essa contradição, os objetivos desta proposta são: localizar artigos que atestem a recepção das teorias comparatistas em meados do século XIX por críticos estadunidenses; analisar de que forma eles receberam o direcionamento dado pela RDM sobre como deveria ser a literatura; interpretar como os escritores utilizaram o discurso cosmopolita difundido pela RDM para refutar ou não sua orientação; comparar as recepções brasileira e estadunidense desses materiais. Os resultados contribuirão para uma compreensão mais profunda dos primórdios da literatura comparada em diferentes regiões e delinearão maneiras de se lidar, através da crítica literária, com estereótipos que podem ressoar até o presente. Eles serão divulgados num artigo e numa conferência.


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